6 de dezembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto

Cascavel caso verídico

Cascavel


Rita Seda



Fomos visitar um amigo que se encontrava doente e conhecemos um senhor que também o visitava. Devia ter uns sessenta anos, cabelos grisalhos, fortinho de corpo. Conversa vai, conversa vem, contou-nos que há alguns anos foi picado por uma cascavel. Tem um sítio, onde faz plantações de milho, mandioca, frutas, hortaliças, legumes. Certo dia, calçou seu sapatão de couro, enxada ao ombro, foi capinar o mandiocal. Sabia, é claro, que as cobras gostam muito dali, principalmente quando o mato está alto...conforme estava. Sempre foi muito corajoso, sempre fez a capina nesse local, não estava nem preocupado com cobra. É isso que dá!Não havia dado meia dúzia de enxadadas, sentiu a picada logo acima do sapatão. Olhou para a perna e lá estava, pendurada, a danada! Sua reação primeira foi balançar a perna na tentativa de expulsá-la. Para seu espanto a danada não arredou dali antes que esgotasse todo seu veneno! Caiu e ficou estirada no chão como se fosse um pedaço de bambu. Sem se mexer...Disse ele que chegara sua vez: com a lâmina da enxada matou-a de um só golpe e colocou-a em um balde. Isso feito, saiu a contar à esposa o ocorrido, pediu-lhe que ficasse com as crianças e rezasse para que ele voltasse vivo. Entrou no Fusca, com balde e cascavel.

Passou na casa do compadre Juca, contou-lhe o acontecido e este já entrou no carrinho para acompanhá-lo até o Hospital mais próximo. Como não havia o soro antiofídico, saíram rapidamente para outra cidade, distante vinte e cinco quilômetros.

O compadre queria dirigir, mas ele teimosamente, já sentindo a vista fraca, continuou firme na direção.

No hospital foi logo atendido, colocado na cama e o médico perguntou:

-Tem certeza que é cascavel?

Ao que ele ainda respondeu:

-Veja o senhor mesmo o que o compadre Juca tem ali naquele balde.

E perdeu os sentidos. Disseram-lhe que acordou quatro dias depois. Ao abrir os olhos viu umas bonequinhas de branco andando pelo quarto, conversando como gente grande... Mas tinham um palmo, se tanto! Quando se sentiu capaz de soltar a voz, perguntou:

- Que bonequinhas são essas de branco por aqui?

- Ora, somos enfermeiras, cuidamos dos doentes como o senhor.

Lembrou-se então da vista turva, da cascavel e adormeceu pensando que nunca mais veria as pessoas normalmente.

Terminou o relato dizendo que ainda precisou de tempo para recuperar a visão. Ficou com alguma seqüela, enxerga menos, mas ainda trabalha a terra. No entanto, se depender dele, mandioca ninguém come! O mandiocal? Soltou as vacas para acabar com ele, mas acabou foi com uma de suas melhores leiteiras... picada por uma cascavel. Que desperdício! Ainda hoje chora a perda. Mas termina a narrativa, entusiasmado:

-Antes a vaca do que eu, né?