6 de novembro de 2010 | By: Rita Seda Pinto

Acontece nas melhores famílias...

Acontece...nas melhores e piores famílias

Rita Seda



Conceição foi uma cozinheira de mão cheia. Seu trabalho era exclusivo na casa de seus ricos patrões. Fazer os quitutes mais saborosos para regalo da família. E ela era exímia. A patroa não abria mão de sua empregada mais importante. Todo dia era dia de festa. As refeições tinham cardápio diferente a cada dia. Salgados e doces. Se num dia comia-se strogonof de frango, no outro já vinha o bife à parmegiana, no seguinte já era cordeiro assado... E como bons mineiros, a base não podia deixar de ser arroz, feijão, legumes, saladas, batatas fritas, bolinhos variados. Sobremesa não podia faltar. Pudins e tortas eram feitas diariamente, além dos doces em calda e das ambrosias... As mãos da Conceição eram de ouro e ouro se gastava na compra de tantos ingredientes nobres. Estava familiarizada com todo tipo de novidade que a indústria colocava no mercado, por mais sofisticadas que fossem. Para ela tudo era fichinha! Tinha seus filhos, seu esposo, sua casa. De manhã deixava o almoço pronto para que eles aquecessem no velho fogão de lenha...Arroz de terceira, feijão, angu, chuchu ao molho...Quando voltava, após o jantar, fazia uma sopinha. Certo dia chegou às nove horas.O esposo, com fome, havia feito a sopa, mas queria comer junto com ela. Afinal, ele ia exibir sua façanha. Quando contou à Conceição que havia colocado legumes da horta na sopa, macarrão e até caldo de galinha, ela ficou cabreira. Caldo de galinha em casa de pobre? Onde já se viu? –Ora, mulher, estava na prateleira e eu coloquei, inteirinho! –Ah! Totonho, já sei o que você fez... A sopa não ficou azul? –É...Não ficou igual às suas, amarelinhas! Mas até que ficou bonita, vem ver.-Meu Deus, você acabou com o meu macarrão e o anil de enxaguar a roupa, Totonho! O jeito é comer pão duro que eu trouxe da casa da patroa para não dormir com fome!

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