30 de março de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Doentes e doenças

Doentes e doenças
Rita Seda

Dias atrás andei pensando em quanta razão tinha a minha mãe.Ela lutava contra a doença e vencia sempre. Surpreendia médicos e família com a sua pertinácia. Naquele tempo a medicina não tinha a tecnologia de hoje, a pessoa não precisava se preocupar tanto com “sua” doença... Certa vez, já idosa, às voltas para ordenhar uma cabra, enroscou-se na corda que prendia o animal, caiu e quebrou o osso ilíaco, quebrou a bacia, como se falava. Minha mãe se recusou a fazer uma radiografia no hospital local. Ela era teimosa, pensava que não precisava. Meu irmão, o Pedrinho, preocupado, chamou Dr. Clemildes, de Pouso Alegre, que trouxe um aparelho de raio-x portátil e tudo ficou resolvido. Além do medicamento para tirar a dor não havia procedimento para ajudar a cicatrização do osso, a não ser, repouso. Quem a conheceu sabe que ficar parada era o maior castigo. Ficou quietinha alguns dias, havia só eu e Pedrinho em casa, a gente vigiava. O Zé Seda, que morava bem perto, também ajudava na vigilância. Certo dia, baixamos a guarda um pouco e quando notei ela estava andando, escondido de nós, empurrando uma cadeira, como se fosse um andador. Avisado seu médico, o competente e muito dedicado Dr.José Alencar Viana, veio imediatamente, examinou-a e mal disfarçando um sorriso nos disse que nossa mãe era excepcional, que deixássemos que ela experimentasse as melhoras de vez em quando... Animada, ela continuou a exercitar-se e logo largou a cadeira e andou desinibida... Aquela soube ser forte e corajosa!Minha mãe nunca foi uma doente. Teve, sim, doenças...

2 comentários:

Rita Elisa Seda disse...

Eu me lembro bem dessa época. Me lembro dos banhos que eu ajudava a dar na vó, me lembro de pentear os longos e ralos cabelos dela e prender em coque. Me lembro da pele da vó, flácida e quente. Depois da cadeira ela teve uma bengala como apoio. Sua terceira perna, que servia para tudo, às vezes, uma extensão de sua mão. A vó Pepa era mesmo forte, lutadora, brava para alguns, para mim... sempre boa e carinhosa. Saudades de minha avó.

Silvinh@ disse...

É Rita, esta sua história me fez lembrar meu pai, que também depois de um AVC, ficando anos sem andar,na cama totalmente dependente de minha mãe e também de nós, seus filhos, principalmente os mais próximos; também lutou bravamente e venceu. Foi uma luta árdua, imagine só uma pessoa que nunca ficou doente, que trabalhava e trabalhava para nos garantir o sustento, mal parava em casa pois era caminhoneiro. Vivia mais na estrada do que em casa...Ter que ficar parado e mesmo quando queria se levantar ou andar precisava de alguém para auxiliá-lo...Não foi fácil, mas foi com muita força de vontade, carinho, ajuda de uma fisioterapeuta, que conseguiu a voltar a andar, e até a dirigir, somente carro, mas dirigia...Meu pai foi Grande exemplo de coragem, bravura, fé, força... Até que anos depois, outros problemas apareceram e foram o consumindo pouco a pouco, e o perdemos!!! Mas ficou sua força de vontade, seu exemplo...sempre com muita sabedoria e silêncio!!!

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