9 de dezembro de 2011 | By: Rita Seda Pinto

cabelos

Cabelos
Rita Seda

Invenção maravilhosa é a fotografia. Através dela podemos rever o passado. Hoje estava vendo umas fotos antigas, da minha família e deparei com uma interessante: eu, vestida de anjo, sobre uma cadeira. Já viu que era bem pequena... O vestido comprido, bordado, as mãos postas, bem comportadas, os olhinhos brilhantes,como se alegres estrelinhas estivessem neles boiando! Mas nada disso prendeu minha atenção. Chamou e prendeu minha atenção o meu cabelo. Liso e escorrido... Apelidaram meus cabelos de beira de rancho. Tinham razão. Era tal e qual. Depois que passa a gente acha graça e naquele tempo eu nem ligava... não tinha consciência daquilo! Crescendo, fui criando em mim a tal “ crítica” e procurei ajeitá-lo como podia. Às vezes minha irmãs faziam uns papelotes, deixava-o todo arrebitado, pior a emenda... Com o tempo deixei crescer a franja e o tamanho foi se igualando... até que na adolescência tive os cabelos compridos, de um castanho acobreado, que me deixaram feliz. Um dia minha professora elogiou a sua cor, seu brilho, foi uma massagem no meu ego. Que bom! Meus cabelos não me envergonhavam mais. Minhas irmãs e todas as moças da época faziam ondulação permanente, com dona Carmélia, uma senhora de Careaçu, que morava perto de nós. Eta cheiro desagradável... Nunca tive coragem. Cortar os cabelos e fazer permanente? Nem morta... Aprendi a fazer um xampu para lavá-los e dar-lhes mais brilho ainda. Levava gema de ovo e sabão de coco. Eu conservava minhas tranças ou os usava soltos, às vezes colocava uma travessinha. Os anos passaram, lecionei, me casei, tive meus filhos e que trabalheira aquele cabelo comprido me dava! Não tinha mais tempo para cuidá-los. Lá pelos meus 40 anos fui criando coragem , cortei e guardei as tranças.Estão lá, na gaveta do armário do banheiro! Era o tempo em que os cabeleireiros punham bob na cabeça da gente, nos colocavam no secador e depois desfiavam. Moda é moda e entrei nessa. Por pouco tempo, pois notei que umas amigas estavam ficando com os cabelos ralos, dando para enxergar o couro cabeludo. Refleti bem, não queria me ver careca... Foi então que encontrei uma pessoa, casada na família do Ivon,bem mais moça do que eu com um cabelo cortado bem curtinho e me encantei. Elogiei e ela me disse: - Para este corte é preciso ter um rosto perfeito! Realmente ela era muito graciosa. Mas, com rosto perfeito ou não, mandei brasa, isto é, mandei passar a tesoura no meu. Nos primeiros dias estranhei, mas nunca mais mudei. Ficaram cinza, meio raposados, não liguei. Deram de ficar rebeldes, de cair,diminuir de volume. Encabulei um pouquinho, mas que fazer? É a vida... Nestes dias vi o rei Roberto, numa gravação. Seus cabelos, despojados, estavam iguais ou piores do que os meus. Aí pensei, se ele pode, eu também... Não sou rainha mas tenho a minha dignidade de ter os cabelos de uma pessoa da idade que tenho sem sofrer! Obrigada, Roberto! Você, além de cantar tão bem, ainda dá lições de vida na gente... Voltei ao tempo de “anjo”: só falta a beira de rancho!

1 comentários:

Anônimo disse...

Que legal!!!
Quem não quiser perder cabelo ou ter cabelos brancos é só morrer jovem...
Então, Deus seja louvado pelos nossos cabelos brancos...

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