9 de dezembro de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Você conheceu Dona Pepa?

Você conheceu Dona Pepa?
Rita Seda

Era minha mãe. Seu apelido vem de Giuseppa, seu nome italiano. Às vezes fico indignada com o tratamento que deram aos imigrantes quando chegaram ao Brasil, para dar duro nos cafezais, substituindo a mão de obra escrava. A começar pelo nome. O lindo nome de minha mãe: Giuseppa Grazzia Francesca Patta ficou reduzido a Josefa Pata. Com certeza vieram com o sonho de ganhar terras, ou comprá-las para pagar com o lucro de seu trabalho, sei lá, mas foram encaminhados para as fazendas sem nenhuma regalia a não ser formar lavouras para fazendeiros ficarem ainda mais ricos. Tem que ter tido alguma promessa, pois a família de minha mãe tinha um sítio, deixou tudo para imigrar. Tenho muitas dúvidas quanto a isso... A maior virtude que coloco em minha mãe é a fortaleza. Ter 15 filhos, levar comida na roça para meu pai, preocupar-se com a educação dos filhos e sua formação, a ponto de tratar com um mestre de obras para empregar um dos meus irmãos que não queria nada com a dureza e arcar com o seu salário, passado, na surdina, a quem iria pagá-lo? Só uma mãe muito bem intencionada faz isso!Além dos trabalhos da casa ela plantava uma horta para ter verduras fresquinhas e alimentar bem a família. Era carinhosa, mas exigente com os filhos, encaminhando-os para o estudo, trabalho e religião. Dessa virtude exigente veio a pecha de que era muito brava. Tinha que ser, né? Parir 15 filhos, criar 13, sem ajudante que não fossem os filhos mais crescidos, faz qualquer pessoa brava... Mas o seu coração era sensivel demais. Podia ser exigente, mas sabia agradar e curar, cuidar, alimentar, não só os de casa, mas os amigos também. Quantas vezes fiquei doente e ela me cuidou, como também cuidou de muitos netos.Lembro-me de seu desespero quando um neto caiu e quebrou um braço, em sua casa. Tinha uma formação religiosa profunda e não descansava com os filhos e netos enquanto não soubessem recitar as orações mais simples e a Salve Rainha. Essa era a sua predileta. Quando mais velha, já aos meus cuidados, se ficava doente, tornava-se mansa que nem um cordeirinho. Quando começava a fazer exigências e reclamações, eu me queixava a um dos irmãos, que me consolava dizendo: “Que bom, está sarando!”E era verdade. Ninguém conseguia segurá-la no leito quando já estava boa. Tinha em seu quarto latas de biscoitos e balas para distribuir aos netos e visitas, além de alguns trocados para dar a quem estivesse precisando, principalmente aos mendigos. Todos os descendentes se lembram sempre de sua braveza e apelidam alguns que puxam à ela de Pepinha (são sempre do sexo feminino), mas se esquecem de dizer também que era justa na sua braveza e tinha o coração do tamanho da necessidade de quem precisasse dela. E como isso era edificante! Morreu às seis horas da tarde, recitando comigo as Ave Marias e Salve Rainha.

3 comentários:

IVON disse...

Rita, tenho boas recordações de sua mãe, minha sogra.Lembro do modo carinhoso que ela tinha com nossos filhos e os defendia como uma leoa.A Telisa dormia com ela e com ela aprendeu a rezar.....
Mas de tudo o mais importante é sua FILHA caçula, que eu tomei como esposa e é dona de meu coração

Silvinh@ disse...

Rita, Linda demais a lembrança que traz de sua mãe. Linda mesmo!!! Realmente foi um mulher e tanto; de se tirar o chapéu: garra, força, fibra, fé...Temente a Deus!!!
Agora sei de quem Telisa, herdou sua fé, devoção...Grande mestra, Dona Pepa!!! Seu Ivon, como sempre muito romântico...E muito sábio ao tomar como esposa Dona Rita, dona do seu coração!!! Deus os abençoe!!! Silvinha

fatima disse...

Tia, que bom ouvir estória da vó Pepa,Me lembro que quando mudamos para BH em todas as férias escolares eu ia com mamãe passar uns dias com ela. Não me esqueço da limonda de limão cravo que ela fazia pra mim e que até hoje, quando tomo, me faz lembrar dela. Acho que herdamos dela a coragem e força, quem tem sangue da Sa Pepa não cai fácil.

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