13 de dezembro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Erudita ou regional...

Erudita ou Regional do Nordeste...tudo é arte!


Rita Seda



Tive a grande alegria de ver o show de André Rieu e Orquestra em São Paulo. Isso, para mim, foi verdadeira graça de Deus. Uma vez tentei comprar ingressos para seu show que estava sendo divulgado pela TV. Ainda bem que não consegui! Era em Paris e eu, onde estava? Em Santa Rita, a doce terra natal... Mas desta vez não bobeei. Ano passado, assim que soube do evento, já escolhemos os lugares e compramos os ingressos. Já era fã, conhecia pelos meios de comunicação e de CDs, mas pessoalmente é outra coisa! Ele e sua orquestra têm um magnetismo especial. É um espetáculo deslumbrante pela beleza do repertório e também do visual das instrumentistas (desculpem os homens, pois têm pouca opção, no fim ficam todos com aparência igual...). Já as moças, vestidas à antiga, o efeito encanta. Fazem parte da orquestra duas brasileiras, ambas soprano, Carmem Monarca, de São Paulo e Daniela, de Belém do Pará. O show, quase inteirinho é realizado no ritmo leve das valsas vienenses, aparecendo de vez em quando alguma música,do país onde tocam, aqui foram “Manhã de Carnaval”, Tico-tico no fubá, Aquarela do Brasil e surpresa!: “Ai se eu te pego, ai se eu te agarro” para homenagear o público. Bem, lavei a alma! No dia seguinte conheci a “secretária” da minha filha. Procurei aproximar-me dela e perguntei-lhe de onde era. Ficou encabulada por um instante, mas respondeu-me: “-Eu sou de uma cidade tão pequenina, tão sem importância...Fica em Pernambuco. Até seu nome é singelo: EXU.” Espantou-se com minha admiração. Sabia que sua terra tem um filho chamado Luis Gonzaga, mas isso não significava nada para ela. Ai, 17 anos! Fui cravando-a de perguntas sobre o que a sua cidade guarda de Gonzagão e expliquei-lhe a admiração que tenho por ele, e seu valor para a música brasileira. Ela me olhava espantada, não sabia que era assim... Foi bom, consegui mostrar a uma autêntica conterrânea de Luis Gonzaga, a importância desse ícone nacional, que valorizou a música do nordeste, deu lugar de destaque ao acordeom e ficou conhecido no Brasil inteiro. Tenho certeza que ao perguntarem onde nasceu, de agora em diante, ela terá muito orgulho em dizer:” -Sou de EXU, a terra de Luis Gonzaga.Aquele que compôs Asa Branca, Xote das meninas,Pau de arara, Assum Preto,Qui nem jiló, Baião e tantas outras!Na minha terra tem o museu com lembranças dele, a casa de seus pais e sua casinha...” Agora ela sabe! Despertei nela até a vontade de voltar para lá!

Música é isso: encantamento e empolgação!



13 de novembro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Praça Santa Rita (Reminiscências...)

Reminiscências da Praça Sta.Rita


Rita Seda





Os que nasceram nas últimas décadas andam reclamando das muitas mudanças em nossa cidade, não gostam do que estão vendo. Como será que as vê quem vem de muitas décadas, sempre residiu aqui, e acompanhou as transformações pelas quais passou? Conto alguns fatos, mas deixo bem claro que os mesmos não me abalam, pois o progresso transforma, mesmo, queiramos ou não, gostemos ou não. Cada tempo tem o seu jeito de ser. A nossa praça era pequena, um jardim bem cuidado, com buxinhos (aquela planta redonda que plantaram em frente da Caixa Econômica) plantados em formação, como soldados, cortados baixinho, fazendo uma divisão da calçada interna do jardim e da calçada externa. Nessa calçada interna a moçada fazia seu footing. Os homens andavam em uma direção e as mulheres na outra. Assim se dava o flerte, que era simplesmente “um olhar mais demorado, interessado”... Quantos namoros começaram ali! Na calçada externa formavam-se grupinhos de pessoas, (muitas vezes os pais, de olho em suas meninas), e havia os que preferiam caminhar ali. Ainda existiam as famosas e polêmicas 4 casas, com seus janelões, constantemente ocupados por olhares curiosos. No Prédio do Cinema havia um serviço de alto falante que funcionava até o começo da exibição do filme. Além de fazer propagandas das casas comerciais, tocava músicas, assim como faz hoje o programa da Katia Kersul, mas sempre oferecidas por namorados ou interessados em começar um romance! Músicas de filmes, boleros, fox trotes, tangos argentinos, sambas e chorinhos, faziam a delícia das mocinhas, que naquele tempo não tinham a afoiteza de fazer o oferecimento: uma proeza impossível para os costumes interioranos. O jardim da praça era muito bem iluminado, não tinha árvores frondosas como as de agora, provocando escurinhos, não... Após as 8 horas o silêncio só era interrompido pelas conversas de grupos maiores, quase todos iam para o cinema. Barulho de carros? Se tinha uma dúzia na cidade era o bastante...Moto? Só a do Sr. Zé da Silva, e ele, parece que à noite, só saía de carro. Comprava-se umas balas, chicletes,cigarrinhos de chocolate ou picolé no Bar do Sr.Júlio e o footing ia se acabando, às 9 horas a praça se esvaziava da juventude, especialmente a feminina. Era o nosso passa-tempo, noite após noite.A gente só deixava de ir se chovia, na semana das provas ou se estava de castigo! E como a ficava amuada... Acompanhamos o crescer da praça, uns monumentos retirados, outros colocados, uma nova fonte (graças a Deus que se manteve a atual), o cinema não tem mais projeção de filmes e muito menos o serviço de alto-falante; casas foram demolidas, apesar das reclamações em massa, a Igreja Matriz foi reformada e agora é Santuário. Para nós, mais idosos, triste mesmo foi o avanço dos costumes. Mas, quem é capaz de parar o tempo e sua mania de progresso e mudança?

17 de outubro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Cerco da Misericórdia

Cerco da misericórdia




Sempre que havia o Cerco de Jericó em Pouso Alegre ou em Varginha, duas cidades que eu sempre visitava, procurava participar e tinha vontade que houvesse em nossa cidade. Para nossa felicidade em 1999 tivemos o primeiro, realizado na Igreja de São Benedito. Como isso aconteceu? Juliana, filha de Manoel Vitorino e Maria Lucia tinha paixão pelo Santíssimo Sacramento. Menina dotada de virtudes especiais, em sua cadeira de rodas, ia à capela da ETE e ali ficava horas e horas diante do Santíssimo. Uma alma boa, não tenho certeza quem foi, até mandou fazer uma rampa com o objetivo de facilitar seu acesso à capela. Ela sempre pensando em realizar o Cerco... Seus pais, irmãs e amigos apoiavam. O Pároco concedeu a licença e tivemos nosso primeiro Cerco de Jericó. Eu tinha um livro com muitas orientações, inclusive contando que o papa João Paulo II via, com tristeza, baldados seus esforços para visitar sua terra natal, a Polônia. Seus compatriotas tiveram a idéia magnífica de fazer o Cerco de Jericó nessa intenção e, milagrosamente, o Papa conseguiu a autorização durante esse Cerco. Não tenho bem certeza de quantos, nós fizemos com esse nome, só sei que um sacerdote de Campinas, Luiz Cechinato, escreveu um livreto em que o Cerco passou a ser da Misericórdia e não de Jericó. E nós o adotamos. De qualquer maneira as barreiras vão caindo, o povo está rezando, conseguindo graças e bênçãos para si e para nossa cidade. Juliana, lá do Céu, deve estar louvando e glorificando o seu e nosso Senhor, vibrando de alegria por ver seu sonho perpetuado. Em nosso Santuário, Jesus Eucarístico está sendo adorado desde o dia 14, sem interrupção. Lindas e abundantes flores vão aparecendo para testemunhar e enfeitar nosso amor. Cantos e orações, silêncio e adoração. Jesus Sacramentado, que conheces profundamente a cada um de nós, aceite nosso louvor e nossa gratidão. Atendei nossos pedidos, se assim o merecermos! Obrigada!

5 de outubro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Talha São João

Talha São João


Rita Seda



Se eu vejo uma talha São João, aquela de cerâmica, com a figura do Santo, vela purificadora na parte superior, lembro-me de Maria Augusta. Faz parte da minha vida de vicentina. Nossa conferência dava assistência à sua mãe, numa das casinhas da Vila Vicentina. A velha senhora vivia acamada,naquele tempo ainda não havia aposentadoria como hoje, ela dependia de nós para a alimentação, remédios, roupas. Tendo diversos filhos, mas sem condição financeira também, não deixavam faltar o mais importante, que é a presença, o carinho e respeito. Sempre havia algum tomando conta dela. Maria Augusta trabalhava em São Paulo, era solteira, assim que se aposentou decidiu que era hora de vir para cá e cuidar da mãe, o que fez até o fim. Aos outros irmãos, ficaram as visitas. Sendo que ela também foi perdendo as forças, seu irmão construiu uma casinha nos fundos da sua, para que morasse. Continuamos a visitá-la. Era doente, mas, acostumada com os trabalhos na capital, numa firma de eventos, era caprichosa com seus pertences. O fogão vivia coberto com protetores especiais de papel alumínio, nenhum outro o igualava em limpeza. Não se via uma poeirinha em seus poucos pertences. Os panos de prato eram os mais brancos possível. As panelas brilhavam. Naquela casa tudo exalava perfume. Tinha um modo especial de fazer seu arroz. Nunca comia na casa dos outros, embora sozinha, sempre fazia seu alimento. Não abria mão de carne, frutas e verduras. Um vendedor de horti-fruti ia, semanalmente, surtir sua geladeira. Muitas vezes nos esperou com um gostoso arroz doce. Não saía à rua, a não ser para cuidar da saúde. Uma senhora fazia a caridade de receber sua aposentadoria. Se a casa era organizada, o mesmo acontecia com seus vasos de flor. Orquídeas, avencas, rosas, samambaias e malvas coexistiam, harmoniosamente, na beira da casa... Além de levar-lhe a Palavra de Deus e rezar com ela, nossa missão consistia em levá-la ao médico, fisioterapia, comprar seus remédios, que quase nunca pagávamos. Fazia questão de pagá-los. Quando precisou fazer fisioterapia no Asilo Ivon era o seu motorista. Nisto ocorria algo engraçado: ele sempre teve a Belina e um carro melhor. Se acontecesse um problema no carro melhor e ele aparecesse de Belina ela reclamava. Gostava do carro confortável. Nós achávamos graça! Era toda coração. Se elogiássemos uma flor, plantava a muda numa lata e nos dava. Se ganhasse alguma fruta, queria que experimentássemos. Não sei bem quem ali era socorrida. Se ela ou nós. Formou-se um elo de amizade tão forte que envolveu toda sua família. Após sua morte, continuamos o contato e continuamos a socorrê-los quando acontece precisar, até hoje. A talha? Ah! Era seu único luxo. Se achasse que precisava trocá-la só aceitava substituir pela mesma marca. Virava um bicho se levássemos outra. E tanto a lavava e esfregava que a desgastava bem depressa... Saudades, Maria Augusta! Pede a Deus por nós!

Mosaicos

A vida é um mosaico


Rita Seda



O mosaico é uma arte antiga. O interior da Basílica de São Pedro, em Roma é todo revestido de mosaicos. É fantástico, lindo, mesmo! A nossa vida é, do mesmo modo, um mosaico. O artista sou eu, é você. Nossas mãos é que trabalham cada caquinho, de vidro quebrado ou de material nobre, para construir a obra de arte da nossa vida. Depende de cada um... Da personalidade, do modo de encarar a alegria e a adversidade, os ganhos e as perdas... Do modo de reagir a cada ocorrência que nos acontece. Do modo de sentir, de dar e receber amor, enfim, de viver. E de querer. Por isso não há dois seres humanos iguais. Cada um traz sua marca única. Para ilustrar, vou destacar duas pessoas interessantes. A primeira é uma sobrinha de meu esposo, cujo nome é Nubia. Desde a infância demonstrou ter tino financeiro. Gostava de chupa-chupa e como em seu bairro não existisse para comprar, passou a fabricá-los. Nasceu a idéia de fazer dinheiro com eles, fez um cartaz de propaganda com uma folha de sulfite, pregou na porta de sua casa e choveram os fregueses... Coisas assim, que fizeram dela,após trinta anos, uma empresária bem sucedida. E tudo começou com uma idéia de criança... A segunda é Nélida Piñon, a célebre escritora. Contou em uma entrevista que lia tudo que lhe caísse às mãos, desde muito novinha. Tinha paixão pela leitura e seu pai dava liberdade para que comprasse livros. Comprava, contava a seu pai e ele ia pagar. E quando perguntavam o que queria ser, a resposta estava na ponta da língua: -Vou ser escritora. Aos 10 anos, ao ver seu pai preencher a ficha de um hotel, onde se hospedariam, ela o cutucava e pedia: põe aí que eu sou escritora, vai! De vontade firme passou do sonho à realidade. Quem não a conhece e admira? É fascinante o mosaico de sua vida, construído com um monte de letrinhas. Eu já estou finalizando o meu mosaico. Apesar de ter alguns cacos negros como a noite sem luar, estes são iluminados pela luz de Deus, sempre presente...Tem muitos cacos coloridos, enfeitados de flores, de música, poesia, amizade e certeza de missão realizada, com carinho. Até que nada mais possa acrescentar-lhe, continuarei sua construção.

Ervas daninhas

Ervas daninhas


Rita Seda



-Se ainda não observou, comece a prestar atenção.

-Em que? Nas ervas daninhas!

Aquelas ervas que julgamos não servir para nada, além de tomar o espaço que a gente gostaria de preencher com flores, hortaliças, planta medicinais, tão úteis. Por mais que se arranca pela raiz, as danadinhas voltam a brotar e com mais vigor. Já briguei muito com elas. Até que consegui entender que tudo que Deus criou tem utilidade, pois a Bíblia encerra a narrativa da criação dizendo que Ele olhou para sua obra e viu que tudo era bom. Sendo assim, as ervas daninhas não foram criadas sem objetivo... Daí que comecei a observá-las para tentar entendê-las. Observei um milharal. O milho foi colhido seco e já arrancados os pés. Logo em seguida, apesar da muita seca, onde havia a plantação, vacas já se alimentavam com as ervas que haviam brotado. Não havia chão pelado, tudo estava coberto de verde. Para os animais era alimento, para nós, ervas daninhas. Quem as plantou? Concluí que elas mesmas, trazidas pelo vento, pelos pássaros ou latentes sob o solo, esperando o momento certo de aparecer. Duas utilidades: forrar o solo e alimentar as vacas. Cheguei à conclusão que é mais importante deixar as plantinhas forrando o chão e passar a roçadeira de vez em quando, para cortar os galhos mais altos, mas proteger o solo, além de concorrer para a cadeia alimentar. Penso que as formigas, lagartas e outros bichinhos atacam as plantas que gostamos porque não deixamos viver as plantas que existem para o seu alimento. Na horta ou no jardim, quando as daninhas teimam em disputar o lugar com as plantas que nos interessam, é compreensível erradicá-las. Cada coisa no seu lugar. Saibamos viver e deixar viver. Uma curiosidade: aprendi que a “tiririca”, gramínea que enfeia os gramados, batida no liquidificador com água é um excelente agente de germinação. Experimente! E nunca mais falará mal dela... E salve setembro, mês da primavera!

Câimbras...Só quem as tem avalia!

Câimbras...Só quem as tem avalia!


Rita Seda



Há um ditado que diz:”De médico e louco todo mundo tem um pouco”. Bastou a gente abrir a boca e contar um mal estar ou uma dor para alguém, que a receita já está prontinha. Assim foi que andei cortando rolhas (as autênticas), na vertical e colocando cada metade num bolso para afastar as minhas câimbras. Ensinaram e eu andei colocando tesoura debaixo do colchão. Não ajudou. Diziam que era falta de potássio, comer tomate e banana eliminaria o problema. Passei a fazer uso dobrado dos dois. Nada de melhora. Através de receita médica passei a usar Cloreto de Potássio. Tudo em vão. Massagem com remédio, de álcool canforado a Doutorzinho, gel apropriado, as câimbras só passavam quando colocava os pés no piso frio. Mas a friagem do tempo era doída... Não sei porquê razão resolvi consultar o Google. A explicação era pequenina, mas havia uma enorme propaganda de medicamento. Foi o fim de uma dolorosa novela. Aprendi que a câimbra é consequência da eletricidade estática do corpo em contato com tecido sintético. Daí a trocar lençóis sintéticos para os de algodão, a manta quentíssima, leve e gostosa por um edredom de puro algodão e um cobertor de lã,que o frio não estava para brincadeira e as terríveis dores passaram. Sem procurar saber do que eram fabricadas, ainda usei umas meias sintéticas e senti câimbras nos pés. Mas já estava sabendo a causa, foi simples eliminar. Se todos os males fossem fáceis de resolver com uma simples consulta ao Google, que bom seria! Mas essa eu consegui! Por que não pensei nisso antes? Teria poupado muitos invernos de sofrimento... Abaixo as rolhas, as bananas e os tomates!Para curar câimbras, pois todos tem sua utilidade... Também o Cloreto de Potássio. Use meias, roupas de cama e edredons de algodão contra as câimbras. Hoje sou eu a dar uma de médica. Ou de louca? Sei não!

25 de julho de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Dona Pepa

Quem conheceu dona Pepa?


Rita Seda



Este era o apelido da minha saudosa mãe. Não havia quem não a conhecesse na cidade. Muito trabalhadora e religiosa, mãe e esposa exemplar, trouxe no sangue um caráter corretíssimo, mas era muito exigente, sendo por isso considerada brava. Tinha um enorme e bondoso coração. Tinha um grande amor pela família e pelos pobres, que naquele tempo cumpriam o triste ritual de esmolar de casa em casa, ela reservava seus “trocados” para dar-lhes e ainda colaborava com mantimentos. Ela e eles eram grandes amigos, sempre trocavam um dedo de prosa. O nome com que minha mãe foi batizada é muito bonito, poético até: Francesca Giuseppa Grazia Patta. Chegou, como imigrante italiana, no Rio de Janeiro, aos 10 anos, com seus pais e irmãos, um deles nascido no navio Colombo, em que viajavam. Entristece-me pensar no pouco valor dado aos imigrantes. A família de mamãe, original de Samugheo, Oristano, na Sardenha, possuía um sítio,deixou tudo para vir formar lavouras de café para os coronéis brasileiros. Como teriam sido recrutados para a imigração e com que promessas? Os dois governos devem ter manipulado esse pobre povo com muita lábia! Será que ofereceram terras, ajuda material, dinheiro, para começarem a vida no novo país? Os meus não ganharam nada, trabalharam para os coronéis, aumentaram a fortuna dos mesmos...Mamãe e papai vieram no mesmo navio e cada um foi para uma cidade, encontrando-se depois e casando-se. Sendo eu a última dos filhos, não presenciei a trabalheira deles,mas fiquei sabendo. Meu pai morreu cedo e ficou minha mãe com a sua fama de brava. Realmente foi brava, mas eu testemunho a bondade de seu coração e imagino os motivos para sua braveza: doenças, trabalhos, filharada para cuidar e a saudade de sua terra. Letícia gostava tanto de sua avó que queria colocar seu nome, (Josefa) na sua filha Patrícia, se nascesse no dia de São José. Mas nasceu no dia de São Patrício... Se vocês, minhas netas, sobrinhas-netas ou primas, forem chamadas de Pepinha, não se aborreçam, pelo contrário, orgulhem-se! Ela foi brava mas nunca foi ruim, teve o maior amor para doar a Deus, à família e aos irmãos.Sua vida foi heróica!Quando estivemos na Itália vimos subir no ônibus em que estávamos, uma senhora igualzinha minha mamãe.Falava com as mãos, com aquela voz vigorosa, vestia-se de roupa comprida e chale, vi então o por quê do estilo da minha mãe...Ela trouxe isso no sangue! Que saudades tivemos naquele dia! Valeu a viagem inteira...Entendi um pouquinho mais dela!

coisas de ciume entre casais

Coisas de ciume entre casal (2012)

Rita Seda



Que figura estranha é aquela, perto da fonte luminosa, na praça da cidade, rodeada de moleques que procuram arrancar-lhe o saco de estopa que cobre sua cabeça e um pedaço do corpo? É homem ou mulher? Veste calças compridas, mas o disfarce impede de percebermos seu sexo. Luta com os moleques que puxam, cutucam, empurram, até os buracos do saco que ficavam diante dos olhos para orientar sua direção já nem se sabe onde estão... Mas eis que um policial surge para verificar o motivo da baderna e os moleques fogem. Como todo disfarce é valido nos dias carnavalescos, deixa a figura grotesca em paz e ela aproveita, “Ufa, não contava com isso!”, vai para um lugar mais isolado e tira o saco, jogando-o atrás de um banco de jardim.- “Escapei por pouco, diz a senhora”. Sim! Era uma senhora de meia idade, mãe de meia dúzia de filhos, que estava desconfiada de traição por parte de seu esposo e queria verificar. Nada viu, pois pouco tempo esteve disfarçada. Agora estava cansada e só queria voltar para sua casa, onde já se acostumara a ficar longas horas, sozinha com as crianças, às vezes, até a noite inteira. Não demorou para que descobrisse, era verdade. E a “outra”morava bem perto de sua casa... Passou a viver um inferno, brigas e mais brigas, expulsou o esposo da cama de casal e colocava dois, três filhos para dormir com ela. E ainda escorava a porta do quarto.” –Você quis? Fique com ela!” Mas nunca mais foi feliz. Tinha um bom emprego federal, não dependia do esposo, criou os filhos, mas ao casar a filha única, fez uma viagem e por lá deu fim na vida, ingerindo um vidro inteiro de antidepressivos. O viúvo? Passou a viver abertamente com a outra, criou o filho que com ela teve e que é reconhecido como irmão pelos outros filhos, normalmente. E na praça, com carnaval ou sem carnaval, a fonte continua a fazer suas coreografias de águas, com movimentos e cores, indiferente aos problemas de quem está por perto...


Cientistas e invenções

Cientistas e invenções


Rita Seda



As invenções acontecem, quase sempre, por acaso. Adams queria inventar uma borracha e acabou inventando o chiclete.

Um cientista europeu estava trabalhando em seu laboratório.

Cansado, saiu para caminhar e tomar um ar puro. Em seu caminhar pela estradinha cheia de mato, um “amor seco” agarrou na barra de sua calça. Foi o que bastou para que ele inventasse aquelas duas tiras aderentes que usamos para fechar bolsos, sacolas, bolsas, carteiras, etc. E onde ele estava era raríssimo esse tipo de vegetação, e que para nós é abundante. Dá até raiva de tantas que agarram em nossa roupa. Por que não foi inventada por um brasileiro? Eu ou você?

Alguns insucessos deram, por sua vez, início a invenções. Alguns cientistas, em 1992, tentavam descobrir um remédio contra a angina. Não deu certo, mas os homens da aldeia galesa que faziam o teste se recusaram a parar de tomá-lo... Bom para os cientistas que começaram a vender o remédio, batizado de Viagra, para tratar um outro problema e bem diferente!

Muito conhecida é a descoberta da Penicilina, por Fleming, que ao fazer experiências com bactérias, tirou férias, mas esqueceu no laboratório uma lâmina suja. Ao voltar viu que as bactérias tinham tomado conta da lâmina, menos na área em que havia

mofo. O desleixo em esquecer de lavar uma lâmina teve duas conseqüências: a penicilina e o contrato de alguém para fazer a faxina...

Estou certa de que muitos dos meus queridos amigos já fizeram descobertas sensacionais. Eu posso garantir que ao deixar de graduar uma geladeira inventei o picolé de alface! Ao errar numa carreira de tricô inventei um ponto novo! Ao esquecer de colocar um ingrediente num bolo, inventei nova receita. Nem todas as invenções tornam-se úteis, mas se encaradas com humor, fazem um bem ao fígado, garanto que fazem.

Dani

Dani


Rita Seda



Você estava sendo esperada com grande carinho por toda família. Seus dois irmãos, impacientes por vê-la fora da barriga da mamãe já tinham escolhido seu nome... Ainda faltavam algumas semanas para sua chegada, mas recebi um telefonema da sua tia, que estava de férias e fazia companhia para sua mãe. Pedia que eu fosse imediatamente para a casa de seus pais em Varginha, pois algo estava para acontecer. Era verdade. Você resolveu nascer antes do tempo. E pior: com complicações. Seu pulmão se recusava a abrir-se normalmente e mesmo com medicamentos foi um sufoco. Teve que ir direto para a incubadora. Não tinha unhas, cabelos, não abria os olhos e nem chorava... Os pés, gelados, mas os sapatinhos que fiz eram grandes demais! Foi aquele corre-corre!Dr.Fausto fez a cesariana e nos mostrou uma bonequinha dorminhoca. Tomei das agulhas de tricô e toca a fazer mini sapatinhos para aquecer seus pezinhos. E luvinhas também, paletózinhos, tudo que sabia e que você precisava... Colocaram-na em uma estufa na maternidade. Só de vê-la, daquele tamaninho e naquele amarelão eu tinha crises de bronquite! Num só dia eu fiz dez inalações com oxigênio no hospital. Seu tio Ivon Junior, que tanto a ama, ficava por conta do meu transporte, da casa ao hospital e de lá para casa... Um belo dia seu pai resolveu tirá-la da incubadora. Sabe por que? Perguntou à enfermeira como funcionava a aparelhagem e ela disse que quando “ela achava que estava quente demais ela desligava!” Seu pai ficou uma arara. Não sei bem como, mas falou com o médico e levou você para casa. Ele mesmo fez uma incubadora jóia e você foi melhorando. Lembra-se do córrego? Lá eu arrancava pés de picão, fervia e preparava-lhe um banho gostoso, de manhã e à tarde para acabar com o amarelão. A água foi lavando sua cor e nós pudemos curti-la um pouco mais. Dani não chorava, mamava porque sua mamãe punha no peito. Eu até pensei que nunca iria ficar normal. Seus pais eram tão agarrados com você, Dani, que quando enfim pôde sair da estufa não a deixavam dormir no berço. Dormia no meio dos dois, enrolada em muitas mantas. Evitavam que seu corpinho esfriasse... Não a deixavam ficar à noite comigo, mas foram-se esgotando e aconteceu que naquela madrugada eu ouvi um barulho diferente, fui ver o que era e encontrei um grande embrulho de cobertas debaixo da cama deles. Era você! O sono e o cansaço nocautearam os dois e nem viram quando a levei. Tirei um sarro deles! E afinal, está aí essa jovem linda, inteligente e prestativa que encanta a todos. Até fisgou o coração de um leão magrelo, que não morde, não urra, é só doçura! Dani, como eu amo você...Presente de Deus na vida de nossa família...Obrigada, meu Deus, pela bonequinha frágil que nos deste e que agora, além de forte transformou-se numa linda mulher.



18 de maio de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Dia das mães Uma homenagem

Da das mães






“Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração;” assim começa o soneto de Coelho Neto, e termina assim:”Ser mãe é padecer num paraíso”. Quem gosta de poesia certamente já o conhece! A mãe consegue dar-se ao filho na totalidade de seu ser, é capaz de sofrer sem demonstrar sua dor, só para ver feliz seu filho... Quero homenagear aqui todas as mães do mundo: as que conheço, as que não conheço; as que são minhas amigas, as que me querem bem. Muito pouco, um dia só, para as mães. Seu dia tem que ser todos os dias. Mas, conforme ficou convencionado, dia das Mães é o segundo domingo do mês de Maria, a Mãe das mães. Foi num domingo antes, dia seis de maio, que sepultamos Maria de Lourdes Ribeiro Andery, a nossa querida Lourdinha. Mãe, educadora de seus filhos e dos filhos de outras tantas mães, no “Grupão”, escola em que lecionou. Amiga e companheira dedicada, sincera, sempre alegre e sem complicações. Até para morrer foi assim. Saiu para se tratar e de lá, partiu para a casa do Pai. Foi esperar por nós... Expoente de uma geração que preparou a seguinte para assumir o comando do mundo. Será sempre lembrada por uma legião de familiares e amigos. Sua falta deixará uma lacuna em muitos corações. Abraço com imenso carinho sua família, filhos, netos, nora, genros e seus irmãos.Voltando às mães, quero dizer que Mãe é presença que consola, protege e faz o mundo parecer mais bonito! Mãe é sinônimo de fidelidade, é estrela brilhando no céu, é a beleza da lua cheia, que apreciamos no início deste mês e que deixou a noite mais cheia de luz, mais romântica e terna. Mãe é aconchego, alegrando, encantando e amando. Mãe não morre nunca, fica vivendo dentro do nosso coração! Enfim, mãe, em seu amor e desvelo, você é reflexo do amor de Deus!

17 de maio de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Realidade e fantasia

Realidade e fantasia


Rita Seda



Gosto de ver filmes que tragam algum enriquecimento para mim. Nesta quaresma tive a sorte de ver alguns filmes muito bons na TV Aparecida. Um deles intitula-se:”Meu pai:uma lição de vida”. Nele tem uma cena entre pai e filho que teve muito a ver comigo. O pai, velho e triste porque sua esposa havia tido um problema cardiovascular e estava internada. O filho, que veio fazer-lhe companhia, deu-lhe boa noite e foi dormir. Notando que seu pai não apagava a luz, o que significava que não se deitara, foi ver o que havia e deu com o velho sentado na cama, como que esperando alguma coisa. Faltava-lhe o pijama e ele explicou ao filho que sua esposa é que entendia dessas coisas e ele nem fazia idéia de onde ela guardava as roupas. Dei um suspiro de alívio...Pensava que só em minha casa aconteciam coisas desse tipo. Graças a Deus! Outros também passam tais apuros! No dia em que fui hospitalizada tive que ir de ambulância. Não porque estivesse tão mal. O médico exigiu. Fui como uma encomenda com endereço. Um tipo SEDEX que tinha portador e destinatário e devia ter assinatura de recepção. Ainda vou entender... Como fui impedida de passar em minha casa para apanhar meus pertences Ivon fez isso por mim. Tudo bem. Quando abri a mala que ele levou tive vontade de chorar. Só a escova de dentes estava certa. Pijamas? Roupas? Chinelo? Ai, meu Deus! Coitado do Ivon!...Na primeira noite usei a camisola do Hospital, velha e surrada, que nem fechava mais e esperei o outro dia para dar um jeito. Fiz o desenho do armário, escrevi o que tinha aqui e ali e o Ivon foi buscar outra vez. Mas quando tem que dar errado dá mesmo. Foi pior a emenda do que o soneto. Graças a Deus estava de bom humor, tranqüilizei-me. E pensei que não adianta fazer tempestade em copo dágua. O que interessava era sarar e vir embora. Tive que dormir com roupas de uso diário e saí do hospital com camiseta do Ivon...Mas tive que achar muita graça quando me queixei para Letícia e ela caiu na risada. Lembrou-se de quando eu separei uns pijamas e camisolas melhores e lhe disse que eram para serem usados quando eu tivesse alguma internação. Não queria passar apuros...Rimos os três juntos. É, o velho do filme tinha razão, roupas, sejam de uso pessoal, de cama, banho ou mesa, só as esposas sabem onde estão...

Ler

Ler é uma arte


Rita Seda



Meu amor pela leitura devo a minha irmã Carminha. Começou a ensinar-me a ler muito cedo, quase que por brincadeira. Ela ganhara de um namorado um banquinho, miniatura dos bancos de nossa praça. Leu para mim o que estava escrito nele, eu gostei da primeira aula e não a deixei mais em paz. Naquele tempo os livros eram raros, pelo menos em nossa casa. O primeiro que ganhei foi um de poesias do escritor Bastos Tigre. Logo, já sabia de cor o conteúdo, mas continuava lendo. Outro, foi Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Fiquei fascinada! Pedia mais! Lia, também, todos os meses, a revista Ave Maria e o jornal Semana Religiosa, do Bispado. Tinha verdadeira fome de ler. Dodô sempre trazia, de São Paulo, revistas em quadrinhos que ele lia primeiro e depois passava para mim. Não tenho certeza, parece-me que era o Gibi. Gostava muito de histórias de fadas, devorei os “Contos de Grimm “, “Os mais belos contos de fadas Iugoslavos” e amava as aventuras de Pedro Malazarte. Ivon comprou num sebo um livrinho de contos folclóricos brasileiros, de autoria do afamado Câmara Cascudo e nele estão inseridas seis histórias do arteiro Pedro.Para mim foi um prato feito. Pude recordar histórias que amei, que li e contei, com muito gosto, para meus filhos e alunos. Tem também a história da Moura Torta, que os alunos amavam, pela lição que a maldosa bruxa tomou. Eu havia esquecido alguns detalhes, foi bom recordar. Coisas que a gente viveu e que é gostoso relembrar. Há um verdadeiro fascínio na literatura de ficção. Valeu ter sido alfabetizada cedo, pois tive mais tempo para ler.- Obrigada, minha irmã! Do meu tempo de criança tenho entre outros, um livro que era usado nos primeiros anos escolares. Ainda me causa muita emoção pelo seu conteúdo de textos italianos baseados em revoluções e a coragem das crianças que ajudavam os militares. Minha história predileta era “O tamborzinho sardo”.Nome do livro:”Coração”, autor: De Amicis. O livro é um amigo de quem podemos desfrutar, que nos fala à alma e está à nossa disposição para nos fazer companhia na hora que quisermos. Temos um neto devorador de livros. É o Felipe. Estou certa de que esse gosto contribuiu para que ingressasse numa faculdade federal. Ler é isso: distrai, instrui e incute valores no leitor.



Maritacas molhadas

Maritacas molhadas


Rita Seda



A gente tem que parar de vez em quando para lembrar os fatos engraçados do nosso passado. Os tristes, e todos devem ter alguns, devemos esquecer, após tirar alguma boa lição. Hoje quero me lembrar de minha rua quando eu era adolescente. As casas baixas, simples, quase todas com a porta de entrada colocada na beira da calçada, janelas baixas, de madeira, poucas com vidraças. Muitos quintais, alguns com árvores frutíferas convidativas. Luz fraca, postes de madeira, pouquíssimos fios de telefone. Era calçada, sim, com paralelepípedos, o que lhe dava um certo “ar de importância”. Poucos carros passavam. Todos os moradores se conheciam e eram amigos. Tenho muita saudade daqueles que já se foram. Havia muitas adolescentes e éramos como as maritacas: tínhamos o hábito de viver em grupo. Hora de ir para o colégio, íamos de bando. Para o footing na praça? Nem precisa dizer que iam todas juntas. Engraçado, quase não havia rapazes em nossa rua. Lembro-me dos primos, dos empregados da padaria e só! Até parece que o grupo era fechado para o sexo oposto! À noite, dia de semana, quando não havia razão para ir à praça ou se não passava filme que valesse a choradeira para obter a permissão dos pais, ficávamos assentadas em duas portas de venda, bem na esquina, papeando feito maritacas. Às vezes falava-se baixinho, outras vezes mais alto, que nessa idade não se tem muito controle com a tonalidade da voz...Muito riso, por tudo ou por nada, tudo inocente. Nem pensávamos que os donos da casa poderiam sentir-se incomodados. E se pensássemos, esperaríamos, no máximo, uma bronca e bateríamos em retirada, todas juntas, rindo ainda mais... E assim foi passando o tempo, até que numa noite de frio, em que, com certeza, nos excedemos e a irritação dos donos da casa ficou insuportável, fomos surpreendidas por um jato de água gelada que veio por debaixo das duas portas ao mesmo tempo! Ninguém se salvou! Todas deram um salto e correram gritando como maritacas, só pensando em mudar a roupa... Ao queixarmos para nossos pais eles acharam graça e alguns ainda diziam: demorou a acontecer...Os donos da casa foram bem criativos,no julgamento dos nossos pais, mas para quem saiu pingando água gelada, foram simplesmente maldosos. Deixamos em paz a casa das duas portas e escolhemos outro lugar mais acolhedor! Mas continuamos nos encontrando... e nos comportando do mesmo modo, que só a idade pode mesmo mudar!



Teu manto azul





Eu quisera mãe querida,

Ao ver teu manto tão rico

Ser desse manto uma parte

Pra ficar perto de Ti.



Mas sou pobre e nada tenho

Para nele acrescentar...

Ser o veludo azul

Ou as pedras que o enfeitam?



Não é pra mim. O veludo é nobre,

Eu sou pobre. As pedras, caras.

E reluzentes. Eu, o que sou?Nada!

Franjas douradas? Quem sou eu?...



Mas eu quisera mãezinha,

Ficar perto de Ti,cobrir-te

A imagem singela...

que mora em meu coração.



Já sei! Serei a linha que borda,

Que costura, que une as pedras.

Ficarei do lado avesso

Ainda mais perto de Ti!





Cuidado demais...ou de menos?

Cuidado demais ...ou de menos? Rita Seda Estávamos todos reunidos em casa de uma pessoa da família quando os dois garotos chegaram, vindos da corrida de kart. Abrindo a mochila um deles jogou nos braços da mãe um bolo de roupas e disse:-Pegue aí, mãe, as roupas do Bruno. Ao que Bruno retrucou, rindo:- Tá louco, rapaz?Será que eu estou pelado? –Uai, não pensei nisso. Vi as roupas penduradas e pensei que eram suas e que ia esquecer por lá... De quem são, então, essas roupas? Todos riam, mas estavam curiosos em saber o fim da história.-Devem ser do rapaz que se acidentou no kart e saiu de ambulância... Puxa vida! Na próxima corrida, devolveremos. Quando fui a um casamento em Aparecida havia muitas jovens da mesma idade minha. Eu tinha levado um batom marca “Toque Italiano”, última novidade no comércio. Tive tanto cuidado para não o perder que, quando abri minha bolsa, já de volta em casa, encontrei, não um, mas dois batons daquela marca e da mesma cor. Devo ter ficado vermelha de vergonha e tive o trabalho de telefonar para cada uma das companheiras para devolver o batom... Em compensação, uma grannnnnnnnnnde amiga, colega de escola, depois que nos formamos, levou por empréstimo um vestido meu, era vermelho e enfeitado com fitas de cetim da mesma cor. Era lindo! Tomou chá de sumisso, a amiga e com ela meu vestido. Até minha família sentiu, pois a roupa e os sapatos eram novinhos... Foram por mim, usados, uma única vez! É a vida, nada é só nosso, num instante podemos perder algo que gostamos muito. Tomara que a tenha feito feliz! Numa viagem que fizemos para uma cidade turística, nos hospedamos no hotel de sempre, foi tudo bacana. Ao desfazer as malas, na volta, notei que faltavam as sandálias confortáveis que uso sempre. Tendo amigos naquela cidade pedi a um deles que apanhasse a minha encomenda no hotel, eu já havia combinado com o gerente e ele garantiu que guardaria para mim. Parecia tudo certo, mas quando abri o pacote onde deveriam estar minhas sandálias tão esperadas, tive a maior decepção: havia, sim, sandálias, mas em estado de ir para o lixo... Quis falar com o gerente novamente, mas estava tão brava que preferi curtir o meu esquecimento com um “mea culpa...” Quando se fica brava o melhor é silenciar! Para não se arrepender depois. Assimilar a lição e não cair noutra...

Decepções

Você já viu uma calçada de cimento com vários cortes verticais, fundos, plantados de grama? Eu também vi. Gostei e quando fomos reformar nossa casinha na chácara quis copiar o modelo na frente da casa. Ficou linda! Sempre que podia regava a grama e quando precisava podar eu o fazia delicadamente com minha tesoura de poda. Durou uns bons anos. Dia destes, pedi ao meu ajudante que “coroasse” as roseiras que ficam no canteiro ao lado da calçada e estavam ficando sufocadas...de tanto mato! Tempo de chuva é assim mesmo, crescem as roseiras, mas o mato cresce bem mais! Ele faz os serviços na chácara quando quer e pode, pois presta este mesmo serviço em muitas outras chácaras perto da nossa e tem as chaves. Pessoa de extrema confiança. Não estava lá quando ele o fez. Não me preocupei, estou acostumada com seu trabalho bem feito. Ao chegar, dias depois, nem parei para observar a calçada, agi normalmente realizando minhas tarefas. À tardinha fui regar minhas flores. Geralmente é nessa hora que eu podo, que eu vejo os progressos de cada pezinho de planta. Quando cheguei à calçada para regar e varrer, quase perdi o fôlego: meu fiel ajudante havia colocado ”randap” e matado minha grama. Estavam sequinhas, amarelas, mortas! Não lhe disse nada. Não perguntei nada. Para quê? O que está feito, feito está. Não se pode remediar. A dor era minha e da calçada. Nem nas gramas havia mais dor. Já não tinham vida. E ele, certamente, não fez por mal. Se a gente sente tanto a perda de umas fileirinhas de grama que cuidou durante anos e amou antes até, de tê-las, como são doloridas as perdas das pessoas que amamos... Pessoas que vivem perto, pessoas que vivem longe, mas que têm lugar especial em nosso coração! Sabemos que elas estão fazendo o percurso natural da vida e que o chamado vem de Deus para uma vida melhor, fechando o ciclo da existência nos braços do Pai, mas como dói! O melhor a fazer por elas deve ser o que eu fazia com minha grama: ter cuidados e dar afagos em vida, porque depois que se vão, o que ficou sem fazer, é problema sem solução. Vamos demonstrar mais afeto a quem está perto ou longe de nós e que nós amamos de coração? Para quem está perto, sejamos afetuosos e valorizemos sua presença; para quem está longe, não tem desculpa, podemos contar com tantos meios de comunicação! Alguns culpam a falta de tempo... A vida está corrida para todos porque está sendo mal usada. Os valores estão invertidos e a sede de fazer só o que dá lucro e prazer tomou conta da humanidade. A vida complicou-se em nome da pressa. Queremos tudo para ontem... Não sabemos mais planejar, esperar, preparar, curtir os momentos. Curtir quem amamos. Para onde caminha o homem? É preciso acordar!
5 de fevereiro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Coisas de ciume entre casal

Coisas de ciume entre casal (2012)
Rita Seda

Que figura estranha é aquela, perto da fonte luminosa, na praça da cidade, rodeada de moleques que procuram arrancar-lhe o saco de estopa que cobre sua cabeça e um pedaço do corpo? É homem ou mulher? Veste calças compridas, mas o disfarce impede de percebermos seu sexo. Luta com os moleques que puxam, cutucam, empurram, até os buracos do saco que ficavam diante dos olhos para orientar sua direção já nem se sabe onde estão... Mas eis que um policial surge para verificar o motivo da baderna e os moleques fogem. Como todo disfarce é valido nos dias carnavalescos, deixa a figura grotesca em paz e ela aproveita, “Ufa, não contava com isso!”, vai para um lugar mais isolado e tira o saco, jogando-o atrás de um banco de jardim.- “Escapei por pouco, diz a senhora”. Sim! Era uma senhora de meia idade, mãe de meia dúzia de filhos, que estava desconfiada de traição por parte de seu esposo e queria verificar. Nada viu, pois pouco tempo esteve disfarçada. Agora estava cansada e só queria voltar para sua casa, onde já se acostumara a ficar longas horas, sozinha com as crianças, às vezes, até a noite inteira. Não demorou para que descobrisse, era verdade. E a “outra”morava bem perto de sua casa... Passou a viver um inferno, brigas e mais brigas, expulsou o esposo da cama de casal e colocava dois, três filhos para dormir com ela. E ainda escorava a porta do quarto.” –Você quis? Fique com ela!” Mas nunca mais foi feliz. Tinha um bom emprego federal, não dependia do esposo, criou os filhos, mas ao casar a filha única, fez uma viagem e por lá deu fim na vida, ingerindo um vidro inteiro de antidepressivos. O viúvo? Passou a viver abertamente com a outra, criou o filho que com ela teve e que é reconhecido como irmão pelos outros filhos, normalmente. E na praça, com carnaval ou sem carnaval, a fonte continua a fazer suas coreografias de águas, com movimentos e cores, indiferente aos problemas de quem está por perto...

Menina dos mil dedos verdes

Menina dos mil dedos verdes

Rita Seda

Menina bonita
dos olhos azuis!
Menina que eu amo,
você sabe onde eu fui?

não sabe?Que pena...
Mas vou lhe contar:
fui ver nossa roça,
a horta, o pomar...

Fui ver o riacho,
fui ver o jardim:
vi cravos, vi dálias,
mil rosas, jasmins...

E entre as plantas
eu vi passarinhos,
azuis borboletas
e outros bichinhos!

Colhi as goiabas
e maracujás
pensando em você
que aqui não está...

ouvia das águas
rumor de canção;
sentia o perfume
das flores:bastão!

Olhando pro chão
que a vi plantar
notei girassóis
da terra a brotar!

Fiquei deslumbrada,
sem nada mais ver,
só via você:tão longe, distante,
querida menina de mil dedos verdes!