5 de fevereiro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Coisas de ciume entre casal

Coisas de ciume entre casal (2012)
Rita Seda

Que figura estranha é aquela, perto da fonte luminosa, na praça da cidade, rodeada de moleques que procuram arrancar-lhe o saco de estopa que cobre sua cabeça e um pedaço do corpo? É homem ou mulher? Veste calças compridas, mas o disfarce impede de percebermos seu sexo. Luta com os moleques que puxam, cutucam, empurram, até os buracos do saco que ficavam diante dos olhos para orientar sua direção já nem se sabe onde estão... Mas eis que um policial surge para verificar o motivo da baderna e os moleques fogem. Como todo disfarce é valido nos dias carnavalescos, deixa a figura grotesca em paz e ela aproveita, “Ufa, não contava com isso!”, vai para um lugar mais isolado e tira o saco, jogando-o atrás de um banco de jardim.- “Escapei por pouco, diz a senhora”. Sim! Era uma senhora de meia idade, mãe de meia dúzia de filhos, que estava desconfiada de traição por parte de seu esposo e queria verificar. Nada viu, pois pouco tempo esteve disfarçada. Agora estava cansada e só queria voltar para sua casa, onde já se acostumara a ficar longas horas, sozinha com as crianças, às vezes, até a noite inteira. Não demorou para que descobrisse, era verdade. E a “outra”morava bem perto de sua casa... Passou a viver um inferno, brigas e mais brigas, expulsou o esposo da cama de casal e colocava dois, três filhos para dormir com ela. E ainda escorava a porta do quarto.” –Você quis? Fique com ela!” Mas nunca mais foi feliz. Tinha um bom emprego federal, não dependia do esposo, criou os filhos, mas ao casar a filha única, fez uma viagem e por lá deu fim na vida, ingerindo um vidro inteiro de antidepressivos. O viúvo? Passou a viver abertamente com a outra, criou o filho que com ela teve e que é reconhecido como irmão pelos outros filhos, normalmente. E na praça, com carnaval ou sem carnaval, a fonte continua a fazer suas coreografias de águas, com movimentos e cores, indiferente aos problemas de quem está por perto...

Menina dos mil dedos verdes

Menina dos mil dedos verdes

Rita Seda

Menina bonita
dos olhos azuis!
Menina que eu amo,
você sabe onde eu fui?

não sabe?Que pena...
Mas vou lhe contar:
fui ver nossa roça,
a horta, o pomar...

Fui ver o riacho,
fui ver o jardim:
vi cravos, vi dálias,
mil rosas, jasmins...

E entre as plantas
eu vi passarinhos,
azuis borboletas
e outros bichinhos!

Colhi as goiabas
e maracujás
pensando em você
que aqui não está...

ouvia das águas
rumor de canção;
sentia o perfume
das flores:bastão!

Olhando pro chão
que a vi plantar
notei girassóis
da terra a brotar!

Fiquei deslumbrada,
sem nada mais ver,
só via você:tão longe, distante,
querida menina de mil dedos verdes!